NOSSOS POETAS


EM CONSTRUÇÃO...

Se você escreve poemas, mande seu poema para dasletras16@hotmail.com, no lugar do assunto coloque seu nome completo e a palavra POEMA e teremos prazer em postá-la aqui:


Segue três poemas do discente James Wilker Freire Machado:


A criatura e o criador


Criamos Deus a nossa imagem e semelhança
Demos-lhe o que mais almejamos nesta vida:
O Poder – o domínio sobre todas as coisas,
Controle remoto sobre os acontecimentos,
As sensações, os espaços-tempo e o universo.
Instituímos-lhe a ira, a raiva e a vingança.
Alimentamos seu Ego: tornando-o o centro de tudo.
Deus, assim como nós, satisfaz-se com a adoração
Dos outros por si, precisa que o tempo todo seja glorificado,
Vangloriado, idolatrado – é narcisista como seu criador.
Quer sempre ser o centro das atenções,
O assunto das conversas, o conteúdo dos livros...
Necessita ser lembrado, jamais esquecido.

Criamos templos em seu nome, catedrais para sua luxúria.
Fizemos cruzadas sanguinárias em sua defesa,
Matamos, apedrejamos, desprezamos, ignoramos
Todos os que não se deram conta de sua autoridade,
Todos os que não sentiram sua presença ubíqua,
Todos que ousaram rebelar contra seu despotismo.

Impregnamos-lhe o machismo exacerbado
O preconceito e a discriminação com a pluralidade,
A diferença, as opções sexuais e fetichistas...
Concebemos um Deus que se arrepende,
Que só é caridoso com quem se sacrifica por ele,
E vingativo com os que não o obedecem.
Que brinca de gangorra com nossa vida...
Como se fossemos fantoches de seu teatro existencial...

Construímos Deus ao longo de milhares de anos,
Através de experiências várias, depois de tantos deuses
Que serviram de modelagem e fôrma.
Nossa imperfeição deu origem ao perfeito:
A nossa criatura é eternamente imortal,
Infinitamente onipotente, oniscientemente inexorável,
E onipresentemente hermética.
Tudo o que infelizmente não conseguimos ser.
Fomentamos em seu coração e na sua mente
O sentimento de ingratidão e orgulho.
O desejo maquiavélico de ser dono, de tomar posse.
E a criatura acaba por esquecer-se do criador!
Rebela-se, usando seu poder de dominação,





CATARSE



Estou cansado de não ser eu!
Estou cansado desse fingimento!
Dessa máscara, que fere o meu rosto!
Desses anseios contidos, arrebatados pelo medo!

O que ganhei com esse conformismo torpe?
Com essa humilhante e vil pusilanimidade?
Aonde cheguei trilhando esse caminho
Prescrito por quem nem sequer admiro?

Tantos sonhos arrojados ao vento – ao nada!
Em prol de quê? Da satisfação alheia?
Desses valores morais arcaicos e hipócritas?
Desse modismo ridículo e insensato?

Basta! Danem-se os outros e suas teorias:
Suas idéias maquiavélicas e virulentas.
É preciso romper o manto de covardia
E medo – esse monstro tétrico – que me envolve!

- Libertar-me dessa subserviência mórbida
Que me impele a negar a minha essência,
E ser o verdadeiro Eu – em sua plenitude –
O Eu que vibra ardente dentro do meu coração!


(James Wilker _ 01 de outubro 2009)




SERENIDADE DOMINICAL


Serenamente o dia amanhece garoando...
No rosto da terra gotículas de água
Penetram suas entranhas, suavizando
A impermeabilidade do seu núcleo estéril.
Elevando o perfume aromático da união
Dos dois primordiais elementos da vida!...


Lufadas tépidas de ventos noturnos
Melancolicamente sopram sobre o dia sereno.
Não se vê o tempo, o tresloucado tempo,
Correr desesperado pelos ponteiros do relógio.
- Agora placidamente caminha silencioso...
Silêncio! Essa palavra ecoa pelos pavilhões,
Pelos terrenos baldios, pela cidade interiorana,
Pelos corações deprimentes dos ansiosos,
Pelos espíritos altruístas dos solidários,
Pela alma dos que abraçam a solidão.


A natureza mostra a sua suscetibilidade:
A sensível demonstração dos sentimentos vivos
Da confraternização do mistério da vida.
O sol, o soberano sol, esconde-se atrás das nuvens.
E o mundo – visível aos meus olhos –
Deflagra-se numa tranqüilidade indizível...
– Ininterruptamente a existência passa pelas horas!


(James Wilker _ 22 de outubro 2006)